sexta-feira, 17 de abril de 2009

Por traz das cabeças


Toda história sempre têm o começo, o meio; que costuma ser o ápice, e o fim, o desfecho, às vezes inesperado, outras vezes nem tanto e em contos como os de fada sempre ganham o mesmo final: E felizes para sempre.



Em As cabeças trocadas o desfecho é surpreendente e, o começo poderia dizer delicado. A história inicia com dois amigos muito unidos na Índia. Eles possuem um forte sentimento de fraternidade um pelo outro. E como duas metades, se completam. São diferentes em valores e vida. Um é nobre, descende de uma casta superior. Este é intelectual, valoriza os livros, o mundo do saber, aprimora a mente. O outro amigo é leigo, mais novo e trabalha com serviço braçal,

exercita o corpo. É simples e por vezes inocente.



Observando com atenção nota-se um possível questionamento dos valores sociais e, os conflitos existentes em ser ter tais valores. O que é melhor, a beleza física ou a da mente? Existe alguma superior?



Poderia se dizer, que o destino dos dois amigos e o inicio do conflito é determinado quando uma bela jovem atravessa o caminho de ambos e, os seduz. Um dos cavalheiros, o estudioso em questão, cai doente de paixão pela moça, com ganas de morrer. E como todo bom amigo, o homem simples, se vê impelido a ajudar e, toma para si o papel de intermediador do enlace entre a bela moça e o companheiro querido. E o casamento é realizado e logo se espera um herdeiro.



Seria tudo singelo e, belo se a historia terminasse nesse ponto, se não fosse transparecido ao marido o desejo de sua esposa por seu melhor amigo. O que culmina no suicídio dos dois homens. Um porque descobre a infidelidade no pensamento da esposa. O outro porque não quer viver sem aquele que considera irmão e se martiriza por algo que não fez. As mortes se sucedem no templo de uma deusa, onde os dois decepam a cabeça em sacrifício. O cenário é desolador; a bela mulher, pivô da tragédia se encontra em desespero e culpa, tentando dar fim a própria vida e a do filho no ventre se enforcando já que não conseguiu levantar a espada que decepou a cabeça do marido e de seu amigo.



Apesar do ponto anterior parecer irreversível, é no momento seguinte que tudo se renova. A deusa do templo se irrita com a mulher por tentar suicídio e pela sua responsabilidade na tragédia. Porém dela se apieda e permite que os dois homens que morreram voltem à vida, com a condição de a mulher colocar as cabeças no lugar rapidamente. É nesse instante que as cabeças são trocadas. A cabeça do intelectual esta no corpo do homem simples e vice versa. Embora exista um gostar inicial por parte dos trocados. Há estranheza e polemica, de quem é a mulher, do corpo ou da mente. Ela que Gostava do perfil sofisticado do companheiro, mais queria satisfazer prazeres com o homem de corpo escultural e gestos francos. Desejava ardentemente o corpo do amigo do marido em seu perfil atlético. Mais gostava da mente do esposo.



Um sábio é consultado e o direito a esposa é dado a cabeça e não ao corpo, embora este tenha fecundado a mulher e segurado sua mão no dia do casamento.



A situação mais uma vez parece perfeita, afinal se resolve a questão e a mulher é dada a cabeça do marido e, ao corpo do amigo. O casal passa a se deliciar com os prazeres da carne enquanto o homem que pouco se interessa por interesses intelectuais, decide se tornar um ermitão. No entanto o marido é a mulher sentem falta do outro. E com o tempo o corpo vai se modelando aos estilos de vida, voltando ao que era antes.



E questiona-se de novo, as prioridades entre os prazeres do físico e os da mente. A cabeça do marido não combinava com um tronco atlético e vice versa. O melhor dos dois universos, o físico e a mente era quando formavam um conjunto nos amigos.

Qual decisão então se deve tomar? O corpo, a mente, os dois?



A saída honrosa foi à encontrada pelos homens e depois para a mulher. Os amigos decidiram travar duelo, pois só poderiam viver em comum em dois. O melhor seria matar um ao outro, e voltar a essência de corpo e mente, afim de elevar a alma e renunciar os prazeres da carne. E dessa forma se resolveu o dilema. A moça foi queimada junto à pira funerária dos dois. Em certo sentido encolhendo o corpo e a mente no conjunto.



Trágico não? No entanto sublime, ao falar da amizade, e o contra ponto do desejo espiritual e carnal. E filosófico, pois questiona a essência do ser e do amor. Existe um tipo certo de se amar? Há o amor puro e, o carnal, qual traz a felicidade?

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